Por Marcello Natale
Há algo no ar durante o COMPOL BRASIL que é impossível ignorar. Uma vibração entre estandes, painéis e encontros de corredor que não vem apenas do tamanho do evento, mas do que ele representa: um marco de virada.
Viramos uma chave.
A comunicação política no Brasil vive uma transição radical, e nem todos perceberam a profundidade disso. Durante muito tempo, o mercado foi liderado por generalistas. Grandes nomes, muitas vezes sozinhos, pensavam tudo: slogan, cor, mídia, roteiro, estratégia. Mas o tempo do gênio solitário está acabando.
Hoje, uma campanha bem-sucedida se parece mais com uma operação de guerra do que com uma peça de publicidade. CRM, tráfego pago, dados territoriais, inteligência de discurso, segmentação ideológica, redes mobilizadoras, criativos para cada canal, social listening em tempo real, robôs e pessoas convivendo em sistemas de alta complexidade. É impossível fazer tudo isso sem especialistas. O mercado se sofisticou porque a política se sofisticou. E o eleitor também.
Essa transformação técnica e cultural exige mais do que talento: exige método, formação e rede. E é exatamente aí que o COMPOL se posiciona como símbolo de uma nova fase.
Estamos testemunhando o nascimento de um mercado mais profissional, menos baseado em improviso e mais pautado em inteligência. Um mercado que compreende que não existe campanha de sucesso sem planejamento profundo, sem dados de verdade, sem coordenação entre frentes. O COMPOL reúne quem está escrevendo esse novo capítulo: as agências que cresceram, os especialistas que se consolidaram, os jovens que estão chegando, as mulheres que assumem posições de protagonismo e os mestres que abriram o caminho.
E há um dado ainda mais simbólico neste momento: pela primeira vez, uma geração inteira de profissionais olha para si com segurança. Depois de anos de experimentação, acertos e erros, as eleições de 2024 serviram como um selo. Um ponto de virada em que muitos deixaram de se ver como aventureiros digitais para se assumirem como profissionais completos, parte legítima do ecossistema político brasileiro. Com suas linguagens, suas ferramentas, seus métodos e, agora, também com seus resultados.
E é aqui que falo não como especialista, mas como alguém profundamente admirado por esse ecossistema. Aprendo todos os dias. E sigo aprendendo com quem veio antes, com quem está agora e com quem ainda está por vir.
Porque nada disso começou agora.
É fundamental reconhecer os profissionais que desbravaram esse território quando falar de comunicação política ainda era quase um tabu. Gente que sustentou bandeiras, formou gerações e construiu a reputação que hoje faz do Brasil uma referência internacional nesse campo. Se hoje conseguimos exportar cases, pensar grande, ganhar prêmios e impactar o debate público, é porque houve quem segurou a onda quando ainda não havia palco. E é a eles que devemos reverência.
O COMPOL celebra tudo isso. Mas, mais do que um evento, ele impõe um novo ciclo. Um ciclo mais colaborativo, mais conectado e muito mais capacitado. Não se trata apenas de aprender. Trata-se de compartilhar, de abrir portas, de cruzar experiências e de construir juntos um mercado com menos vaidade e mais entrega. E eu, com humildade e entusiasmo, sigo aqui tentando somar, servir e aprender com quem faz essa história acontecer todos os dias.
Afinal, como a política, a comunicação também é um ato coletivo.