Emerson Saraiva
Em 2019, quando eu criei o eleja.se, eu entendi duas coisas.
A primeira: finalmente chegamos ao que chamo de estágio da singularidade dos conceitos estratégicos no mercado brasileiro de marketing político.
Isso quer dizer que diferenças culturais, contextos regionais e conjunturas políticas passaram a ter menos importância para o trabalho de construção de uma campanha em qualquer parte do Brasil. Conceitos e fundamentos universais cabem em qualquer situação.
Comprovei na prática que essa história de “aqui é diferente”, “isso não dá certo na minha cidade” ou “tem coisas que só funcionam aqui” são ditas por pessoas que na verdade só conhecem suas próprias realidades e afirmam isso muito mais por ignorância do que por conhecimento.
Comprovação nas redes sociais
Comprovo isso quase diariamente no instagram, quando posto sobre um tema que parece específico de uma determinada região do Brasil e pessoas de todo o país comentam que aquilo acontece em suas cidades.
Entendi que todo estado, cidade ou até comunidade tem sua realidade e como dizem os políticos que dominam a retórica, “o que nos une é muito mais significativo do que o que nos separa”.
Na prática, hoje sei que a estratégia que funciona em Itabaiana, na Paraíba, também funciona em Praia Grande e São Paulo. O regionalismo na construção de narrativas eleitorais foi em grande parte superado por um pensamento unificado. Na terra de Jackson do Pandeiro ou dos Engenheiros do Havaí, um bom jingle no estilo sertanejo faz sucesso sim, porque, como a gente repete, A POLÍTICA É FEITA DE PESSOAS, as pessoas são de onde elas estão e neste momento as pessoas estão NAS REDES SOCIAIS.
Segunda descoberta
A segunda descoberta foi que a geração de ouro do marketing político brasileiro não formou herdeiros e não temos uma nova leva de estrategistas eleitorais preparados para absorver o crescimento exponencial que o mercado está vivendo por conta da popularização da Internet e da universalização do acesso às redes sociais, com o agravante da completa invasão dessas redes, antes avessas ao tema, pelas pautas e narrativas políticas.
Na prática, os marketeiros da velha guarda demoraram a entender a amplitude e profundidade da ocupação do espaço de debate político pelas mídias digitais e menos ainda a nova ideia de que para crescer é preciso fazer o mercado crescer e o mercado só cresce se a gente formar concorrentes.
Diante disso, eu, que fiz parte da geração que se criou operando o canhão da propaganda eletrônica, mas compartilhei da visão daqueles que perceberam o potencial do digital quando ele ainda era apenas previsão de futurologistas, vi nas eleições de 2020 e seguintes o momento histórico em que o digital ia tomar conta da porra toda e eu podia participar dessa festa em dois lugares.
É a partir dessas duas constatações que eu acredito realmente que o mercado está em um ponto de inflexão e que os dois maiores problemas a resolver são:
– Atender à demanda perene e crescente por mão de obra qualificada, o que, diante da constatação de que a mão-de-obra necessária não existe ou não está suficientemente qualificada, leva ao segundo problema.
– Qualificar os profissionais que já estão no mercado para a nova realidade das pré-campanhas, campanhas e mandatos, com atenção especial para os novos canais e novas tecnologias como a Inteligência Artificial.
Parafraseando José Ortega y Gasset, “O mercado brasileiro de marketing político e estratégia eleitoral é o mercado e suas circunstâncias. Se não resolve a elas, não se resolve a si.”.