Mais mulheres no poder: uma urgência democrática

Faço minha estreia nesta coluna com a responsabilidade de ser a editora-chefe do Sem Decoro. Logo eu, tão acostumada aos bastidores da política, chego agora ao centro do palco. E já que é para tombar, inicio com de forma provocativa. 

Somos 52% da população brasileira e mais da metade do eleitorado. Mulheres decidem eleições, pautam debates e se destacam em áreas que vão da saúde ao empreendedorismo. O voto feminino é mais zeloso e cauteloso porque carrega urgências cotidianas: creche, segurança, escola, emprego e preços justos. São mães, provedoras e cuidadoras.

Apesar disso, a presença feminina na política ainda é mínima. Dos 5.569 municípios brasileiros, apenas 727 têm prefeitas — ou seja, só 13% das cidades são lideradas por mulheres. Entre as capitais, esse número é ainda mais alarmante: apenas duas são comandadas por prefeitas. Em 2022, a Câmara dos Deputados elegeu 17,7% de mulheres — avanço tímido e ainda muito distante da paridade. No Senado, a proporção é semelhante. E nos governos estaduais, apenas uma mulher ocupa um cargo de governadora.

Dizem que lugar de mulher é onde ela quiser. Mas na política e no marketing político, a realidade ainda é outra. Quantas campanhas foram lideradas por mulheres? Eu mesma, que trabalhei em 15, tive nesses anos todos, apenas uma chefe, que ainda assim não participava de todas as decisões estratégicas. E quantos cursos de comunicação e marketing político são criados ou ministrados por elas? A representatividade feminina nos bastidores também importa.

A frase recente, dita em rede nacional — “eu respeito a mulher e não a ministra” — escancara uma lógica política que aceita mulheres apenas como eleitoras ou apoiadoras, mas não como lideranças com mandato e voz ativa. Talentos existem. Lideranças, também. O que falta é romper as barreiras e, sobretudo, investir na formação e capacitação política de mais mulheres.

O sistema político-partidário brasileiro segue como um dos maiores obstáculos. Mesmo com a cota legal de 30% para candidaturas femininas, muitas vezes isso é tratado como uma obrigação burocrática. Há partidos que lançam candidatas fictícias só para cumprir a regra. Se nem os partidos respeitam o espaço feminino, quem respeitará?

Além disso, há o duplo ou triplo turno vivido por muitas mulheres: a rotina política somada ao trabalho profissional e aos cuidados familiares, em uma sociedade que ainda distribui (e cobra) de forma desigual essas tarefas.Adoraria ser otimista, mas não vejo avanços. Redes de apoio, movimentos femininos e iniciativas de formação ainda são poucas, não contam com apoio e são restritas a nichos. Mais mulheres na política e na comunicação da área não é só questão de representatividade. É uma necessidade democrática para que o Congresso, as campanhas, os discursos e espaços de poder reflitam, de fato, a cara do Brasil.

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