Kassab é pragmático. Quem conhece a política sabe que o engenheiro civil e economista de formação e político por vocação é um dos personagens mais interessantes da política brasileira. Paulista, 64 anos, Kassab tem uma uma carreira marcada pela extrema habilidade em transitar por diferentes governos e circunstâncias.
Sem Decoro faz sua estreia com uma entrevista exclusiva desse personagem unânime em admiração por opositores e apoiadores. Mas antes, se você ainda não conhece um dos nomes mais falados e consultados da política brasileira, segue a bio.
Vereador em São Paulo nos anos 1990, depois deputado estadual e federal. Vice-prefeito da capital do estado em 2004 na chapa de José Serra. Com a saída de Serra para disputa do governo em 2006, Kassab assumiu a prefeitura. Reeleito, foi prefeito até 2012.
Em 2011, fundou o Partido Social Democrático (PSD), criando um novo espaço para o centro, antecipando e escapando da polarização que hoje é a marca da política nacional Kassab montou seu próprio centro político e o partido ganhou musculatura nacional, tendo em seus quadros estrelas como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e a governadora Raquel Lyra, de Pernambuco.
A biografia do ex-prefeito e ex-ministro mostra sua habilidade: ocupou o governo Dilma e Temer. Como é possível?
Só Kassab é capaz.
Fale seu nome em uma rodinha de políticos ou jornalistas e logo ouvirá elogios à sua capacidade de articulação, seu perfil agregador e por atuar como um operador com boa interlocução com o setor empresarial e lideranças regionais. Conhecido e reconhecido como um político hábil nos bastidores, seu nome surge de forma sólida para a eleição do governo de São Paulo. Alguns apostam como vice, outros como cabeça de chapa. Vindo de Kassab, tudo pode acontecer.
O que pensa Gilberto Kassab sobre a comunicação política?
Veja a seguir.
Da sua primeira campanha eleitoral, nos anos 90, até os dias de hoje, o que o sr. acha que mudou na comunicação eleitoral?
Diria que o formato de comunicação mudou completamente o processo eleitoral, assim como mudou no cotidiano das pessoas. Antigamente, um dos maiores gastos de campanha, principalmente quando se fala em candidaturas proporcionais, como deputado e vereador, era selo, correio, mala direta. Ter uma lista de endereços preparada para enviar cartas aos eleitores era caro e muito importante. Hoje não existe mais. Eu participei de campanhas políticas majoritárias em que carregava sacos de fichas telefônicas para, quando chegasse numa cidade, pudesse ligar para veículos de comunicação, lideranças locais, a base da campanha. Hoje todos têm um celular e conseguem conversar até dentro de um avião. São realidades muito diferentes.
Como o sr. vê a comunicação política hoje?
A forma de chegar ao eleitor mudou. Se antes funcionava com carta, com programas e debates no rádio e na TV, hoje a gama de formatos é enorme. Os computadores e celulares, as Smart TVs. As campanhas precisam estar atentas aos novos formatos, mas temos visto que a mensagem continua semelhante: o bom trabalho, a competência, a capacidade de gestão e os bons programas de governo ainda são fundamentais.
As redes sociais vieram para ficar ou o sr. vê sinais de desgaste?
Acho difícil afirmar. Hoje é uma realidade, mas que chegou tão rápido que eu diria que também pode mudar muito rápido. Tornou-se uma das grandes fontes de informação de boa parte da população, então precisa ser incorporada numa campanha de sucesso. Mas os meios profissionais de informação seguem muito importantes. Jornais, rádios, televisão e sites de notícia são formadores de opinião.
O que o sr. mais gosta em uma campanha eleitoral?
Gosto de disputa de projetos, de propostas. A campanha eleitoral sempre tem uma situação ou outra em que surge um golpe mais baixo, um apelo aos extremos, mas o que prevalece, o que interessa ao eleitor, é saber o que os postulantes àquele cargo pretendem fazer se vencerem a eleição. Por isso reafirmo a importância da qualificação do candidato e do desenvolvimento de bons projetos.
Que tendências o sr. vê para 2026?
Parece que teremos uma eleição em que debateremos o uso da inteligência artificial. Como serão produzidos os conteúdos de campanhas, vídeos, jingles, texto. Quase tudo parece poder ser produzido por IA, mas será que teremos a mesma qualidade dos processos anteriores? A fidelidade em relação aos fatos? Haverá algum limite?
Como o sr. vê a questão do fim da reeleição e possíveis impactos nas campanhas eleitorais?
É um tema que está em debate no Legislativo e eu, pessoalmente, não vejo a reeleição como um dos problemas urgentes do país. Entendo as pessoas que são contra ou a favor da reeleição, mas não acredito que mudará o sistema eleitoral. Por outro lado, a cláusula de desempenho e a proibição da coligação em eleições proporcionais trouxeram avanços importantes, com a redução no número de partidos que já estão produzindo eleições com debates de ideias mais qualificadas. Isso tende a melhorar cada vez mais.
Que conselhos o sr. pode compartilhar com jovens candidatos e jovens profissionais de comunicação que querem entrar no marketing político?
Olha, é indiscutível que é importante conhecer as ferramentas disponíveis, as formas de se comunicar, de fazer a mensagem, os projetos chegarem ao eleitor. Mas é preciso entender que para isso funcionar é preciso ter a mensagem. Então é fundamental se qualificar, estudar as demandas, os desafios, para desenvolver as propostas, os projetos. O jovem político precisa militar na comunidade, na câmara de vereadores, no partido político da sua cidade. São os bons projetos que conquistam o eleitor e que, se bem desenvolvidos ao longo de um mandato, mudam a realidade da vida das pessoas.
O sr. gosta de campanhas eleitorais? Acha que é ali que o político se diferencia?
São dias, semanas intensos, cansativos, mas muito gratificantes. Quando você tem uma boa equipe, uma boa agenda, um bom plano de gestão e consegue apresentar suas propostas, é bastante gratificante. O desempenho eleitoral é uma consequência, nem sempre a vitória acontece. Mas isso também faz parte da política. E para os mais jovens é importante saber disso, lembrar que dali dois ou quatro anos haverá outra eleição.
Qual ferramenta de comunicação o sr. considera essencial na política atual?
Hoje eu acho os aplicativos de mensagem, como o whatsapp, muito importantes. Ter suas listas de transmissão organizadas, separadas por categorias diferentes, é muito importante para divulgar mensagens importantes tanto da campanha quanto da gestão.
O que mais marcou o sr em uma campanha política?
Acho que as primeiras campanhas que participei foram as mais marcantes. Primeiro atuando junto à coordenação das campanhas do Guilherme Afif Domingos. Ele venceu a disputa em São Paulo para deputado federal constituinte em 1986. Depois estive na campanha dele para presidente da República, a primeira disputa da redemocratização, em 1989. A outra inesquecível foi a primeira que venci, para vereador em São Paulo, em 1992. Outros tempos, de fichas telefônicas e selos para mala direta nos Correios. São boas lembranças.