Ligar ou não, eis a questão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ou não ligar para Donald Trump? Essa é a questão que divide opiniões de especialistas, políticos e analistas de marketing político. A decisão vai muito além de um gesto diplomático: influencia a narrativa política.

Vamos analisar o impacto das relações entre Lula e Trump nas exportações brasileiras para os Estados Unidos

Por que um telefonema não basta

Mesmo que Lula decida ligar, dificilmente o gesto aliviará o clima pesado entre Brasil e Estados Unidos. Trump já demonstrou em diversas ocasiões que não se satisfaz com um simples contato. Ele exige demonstrações públicas de submissão. Foi assim com o presidente da Ucrânia.

No jogo de cena da política, o ato de “passar a mão no telefone” é simples e compreensível para a população. É justamente por isso que aliados de Trump no Brasil repetem essa narrativa. O ex-presidente norte-americano, ao afirmar que está “à disposição”, constrói a imagem de conciliador, enquanto mantém a pressão.

Ligar é o ato simbólico de mais fácil entendimento pela população e por isso os aliados do presidente norte-americano no Brasil insistem nessa narrativa. Passa a mão no telefone que tudo se resolve e a culpa é do presidente que não faz esse primeiro gesto. .

O impacto na economia e nas exportações

A tensão diplomática não afeta apenas a imagem internacional: mexe diretamente no bolso de quem exporta para os Estados Unidos. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 36 bilhões para o mercado norte-americano, incluindo 90% da manga e 99% da uva produzidas no Vale do São Francisco.

Para a moça que colhe manga no Vale do São Francisco e que certamente terá sua vida alterada por um possível desemprego ou perda de renda com salários reduzidos, o que significa a Lei Magnitsky? Nada. É preciso trazer o discurso para a realidade concreta das pessoas. A direita, que domina essa técnica, está perdendo a mão e pode pagar caro no próximo ano. A esquerda, tem a faca e o queijo na mão.

O muro narrativo de Trump

Donald Trump construiu um discurso que mistura economia e política, criando vilões e mocinhos em ambos os lados. Mas a birra do republicano não vai impedir, por muito tempo, a mudança no eixo de poder global. A ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial já não se sustenta diante do avanço de China, Índia e dos Tigres Asiáticos.

Polarização interna enfraquece o debate

No Brasil, a guerra política entre lulistas e bolsonaristas atrapalha a construção de uma comunicação estratégica. Em vez de esclarecer, a troca de farpas e a avalanche de postagens afastam a população das discussões mais importantes.

A direita, que sempre soube traduzir questões complexas para a linguagem popular, está perdendo espaço. A esquerda, neste momento, tem a faca e o queijo na mão para reconectar a política à vida real das pessoas.

Enquanto isso a pergunta continuará ecoando: ligar ou não, eis a questão.

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