Campanha sem pesquisa é avião sem asa, fogueira sem brasa. Citações musicais à parte, pesquisa e eleição caminham de mãos tão dadas que é muito difícil pensar em uma sem a outra. Almas gêmeas.
Tudo começou de forma sistemática nos anos 30 nos Estados Unidos, quando George Gallup fundou o American Institute of Public Opinion em 1935, quando mostrou ser possível prever comportamentos coletivos. Resultado: acertou em cheio a vitória de Franklin D. Roosevelt em 1936.
De 1936 até hoje, muitos anos se passaram e será que as pesquisas continuam tão fundamentais em uma eleição?
“A pesquisa continua sendo decisiva — mas não basta medir, é preciso interpretar e agir estrategicamente”, afirma Wilson Pedroso, consultor político com mais de 30 anos de experiência na área. “Em campanhas modernas, ela define o discurso, revela onde virar votos e identifica riscos antes que virem crise. Um bom tracking pode antecipar o movimento do eleitor e ajustar mídia, linguagem e território com precisão”.
Pesquisas medem o humor das pessoas, opiniões, preferências. Aquela velha máxima que “nunca conheci alguém que tenha respondido uma pesquisa” pode até valer se levarmos em consideração que somos mais de 200 milhões de brasileiros. Mas, procurando bem, sempre se acha alguém que já respondeu a uma pesquisa. Porque pesquisa não é lenda: é ciência.
“A pesquisa é um antídoto contra o achismo”, diz Matheus Dias, especialista em pesquisa e diagnóstico eleitoral e fundador da OPUS Consultoria e Pesquisa. “Ela impede que decisões cruciais sejam tomadas com base em impressões pessoais, bolhas sociais ou desejos do candidato”.
No Brasil, as pesquisas começaram a se profissionalizar nos anos 1940/50, com o surgimento de institutos como o Ibope (fundado em 1942). E hoje, proliferaram em diversos modelos: telefone, internet, tempo real, grupos etc. Dificilmente passamos mais de uma semana sem ver na TV debates sobre pesquisas de popularidade, aprovação e desaprovação de governos e intenção de voto (ainda que estejamos distantes da disputa eleitoral.
Não podemos esquecer que as pesquisas fazem tanto sucesso que o nome do Ibope virou gíria. Nos anos 40/50, o foco das pesquisas era a audiência de rádio, mas em 1955 aconteceu o primeiro grande marco com a pesquisa para a eleição presidencial entre Juscelino Kubitschek, Juarez Távora e Ademar de Barros.
Com a ditadura não havia voto e sem ele, pesquisa eleitoral para que? A partir de 1985, com o fim do regime militar, elas voltaram com força e ganharam papel central na eleição de 1989, quando a disputa entre Collor, Brizola e Lula foi acompanhada sistematicamente pelos institutos (na década de 80 surgiram o DataFolha e o VoxPopuli), que passaram a estampar os números na capa dos jornais e o noticiário da TV.
E o que mudou?
Para Wilson, “a pesquisa eleitoral deixou de ser apenas uma fotografia estática para se tornar um sistema de monitoramento contínuo. O avanço da tecnologia permitiu integrar dados tradicionais com análises digitais, como escuta em redes sociais e tracking diário. A segmentação estratégica se tornou essencial”.
Apesar de erros recentes e muitas dúvidas sobre métodos e eficácia, não há como abrir mão de uma boa pesquisa ao montar uma estratégia de campanha.
“Pesquisa não é luxo, é direção. Ela orienta desde a construção da narrativa até a distribuição do orçamento e a definição de alvos prioritários”, completa Wilson.
E o que leva o estrategista a buscar esse campo?
“Sempre tive interesse por dados. Não apenas pela coleta em si, mas especialmente pela forma como eles são aplicados no dia a dia. No caso das campanhas eleitorais, esse interesse ganhou outra dimensão: trata-se de um processo competitivo, com prazo definido e um único vencedor”, revela Matheus.
Curiosidade, dados, escuta ativa e muita paixão pela política. Assim podemos pensar a pesquisa, a alma gêmea da eleição.